domingo, 14 de agosto de 2011

Campeonato Nacional de Escrita Criativa - 4ª jornada

Escreva sobre um coração que era impossível fazer parar.

Escutava vozes ao longe. Alguém tagarelava. O seu coração, contudo, centrava-se naquele objecto. Era especial. Nele tinha lido o paraíso: “amo-te”.
O seu coração não parava! Tinha aprendido a bater desde aquele dia – solarengo, ilusório, enlouquecedor! Uma chama emergiu e aqueceu-o, derretendo todo o gelo encarnado que nele subsistia. A escuridão, propositadamente colocada no seu espírito, desvanecia-se com o passar da mão dela no seu rosto… Que seria? Carinho?! Desconhecia tal arrepiar.
O seu olhar pousou no telemóvel. Nenhuma mensagem doce. Ai, doce! Aqueles lábios encarnados nos seus, melosos… Ansiava por uma mensagem, para saber que estava viva, que é como quem diz, a pensar nele.
A notícia chegou através de um amigo. O suor começou-lhe a escorrer, os pulmões colapsaram. “Preciso que respires!”, clamava o seu corpo, em puro tormento. Todavia, só se sente a dor mais forte: a da traição! Não havia tempo para respirar, queria correr, desalmadamente, até a encontrar, a ela – com ele!
As pernas não o ouviam. Implorou-lhes para que se movessem. Nada. Estaria morto?! Teria desistido do suplício? De todo o seu ser, só sentia o coração. De bater tão depressa, nem se apercebia do seu ritmo. Estava dilacerado: iria parar? Tinha nascido quando lhe sorrira, quando a envolveu delicadamente com o seu braço… Tinha lógica que voltasse à letargia.
Antes morrer que padecer de tal tortura. Era ela: perfeita! Como o compreendia. A única que deixara entrar no seu íntimo: tão frio, tão inexplorado. E tinha permitido…
Estava alagado: em suor, em lágrimas, em sangue. Se existem lágrimas de sangue, eram as suas. E o seu corpo, mártir e preguiçoso, desistia. Traidor(a)!
Uma golfada de ar ressuscitou os pulmões. Respirava sofregamente, o ar entrava e saía, saía e entrava. Lutava pelo corpo entorpecido. De repente, ficou cego. Era um negrume familiar, estava no seu quarto.
O coração adormecia. Estava exausto com tamanho aperto: era um sossego mais que merecido.
Lá estava ela, ao seu lado. Sentia a sua respiração regular. Ouvia a melodia do seu perfume, suave. Apertou-a! Sentiu(-a) no seu peito. Que nome teria aquele sentimento? Amor não era suficiente.
– Acordado?
Ela sorriu, enternecida com o olhar daquele que apenas habitava outro corpo, porque a alma era a mesma. E nessa alma batia um só coração, impossível fazer parar de bater.
– Dorme, querida. – acariciou os seus caracóis cor de mel – Foi apenas um pesadelo. O sonho, esse, continua aqui: real.

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