domingo, 28 de julho de 2013

Quanto vales?

Ela estava à janela, nua. O vento movia os seus cabelos com subtileza e ela contava os carros que passavam na rua. O que vale um carro? Viu um Mercedes, seguido de um carro velho e por último uma bicicleta. Em termos monetários é fácil de imaginar o que vale mais. Mas cada veículo tem uma história, desponta sentimentos que podem mudar o seu valor.

Foi então que ela percebeu que o valor das coisas não é único. Pelo contrário, era subjectivo. Até o valor do próprio dinheiro, que se pode contar facilmente, varia de pessoa para pessoa. E então ela viu que este podia ser o maior problema do nosso mundo. A vida de um panda não tem qualquer valor para muitos. As crianças esfomeadas não têm qualquer valor para a maioria. Porque todos nós sabemos que elas existem, e que morrem enquanto nós lemos este texto, mas na realidade não nos interessa. Não nos interessa por várias razões, mas todas elas apontam para um grande, redondo e abismal: EU. Porque a prioridade é a nossa vida, e essa é que tem valor. Valor para mim claro, porque para a humanidade não tem valor nenhum. Porque para o mundo, para o planeta terra, menor que um átomo quando comparado com o Universo sem fim, a minha vida, a tua vida, não tem absolutamente valor nenhum.

A mulher inspirou o fumo do seu cigarro e continuou a permitir que a sua mente prosseguisse a viagem. Se a tua vida não tem valor, que dizer da tua roupa? Que dizer de todos os objectos que te apoderas para pertencer a uma sociedade, quando na realidade a própria sociedade em si nada vale? O seu valor absoluto: zero. E no entanto parece que a nossa vida gira em torno deles. Ridículo. Uma vida que não vale nada gira em torno de objectivos e pertences que nada valem. E as horas de trabalho gastas para pagar tais privilégios? Não estaremos a desperdiçar quase uma vida inteira? Ah, esqueçam, a própria vida não tem valor.



Neste momento a mulher parou. Olhou para si, desconcertante, a pensar que tudo o que estava a ver era inútil. Tinha de se agarrar a algo, algo que lhe dissesse que valia a pena ela existir. O interior. Seria o seu interior, o teu interior, digno de valor? Seriam ao menos os pensamentos dela úteis, valiosos?
Uma coisa é certa, há mentes que são desprezíveis. Mas também é verdade que existem pessoas com pensamentos de algum valor. Não perfeitas. Não bondosas. Não verdadeiras. Mas pessoas que estão muito perto de ter valor, se tal é possível.



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